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05/OUT/2011
Filmes de terror e a maldição das sequências
        Em Hollywood existe uma regra para os filmes de terror, se eles fazem sucesso as sequências serão feitas infinitamente. Para mim, poucas são as sequências que foram dignas de ser lembradas. Na maioria das vezes o problema é que os filmes de suspense e terror trabalham com pouco orçamento e o sucesso dos primeiros filmes se deve muito à originalidade do roteiro. As sequências acabam sofrendo por dois motivos, com o sucesso do primeiro, os estúdios liberam verbas maiores e, além disso, o elemento-surpresa do roteiro já foi perdido.
        Os melhores filmes de terror sempre tem um tom de amadorismo, de filmes feitos em casa. É por isso que o espectador se envolve com a trama, porque a história parece realmente estar sendo contada por aqueles que a protagonizaram estando, aparentemente, tão próximos de nós. Quando as sequências recebem altas somas para o projeto, o filme se transforma em um grande blockbuster e a familiaridade com o cotidiano se perde.
        Sabemos disso e podemos provar, existe um subgênero inteiro que explora o efeito que os "home-made videos" exercem no público. Posso citar "A Bruxa de Blair", "REC", "Atividade Paranormal" e o mais recente "Apollo 18". E vimos o fracasso das sequências que já existem dos filmes citados.
        Quando você vê pela primeira vez um grupo de jovens numa floresta supostamente mal assombrada que registrou seus últimos momentos de vida com uma câmera de vídeo, tudo é genial, é um novo mundo a que você está sendo apresentado e você acaba tão imerso nele, que o suspense funciona. Mas quando você assiste um segundo filme com a mesmíssima história você não tem surpresas e não escapa de começar a compará-lo com o primeiro.
        Existem exceções, é claro. Poucas, mas existem. As franquias "Pânico" e "Premonição" lançaram este ano seus quarto e quinto filmes, respectivamente, e com grande sucesso. O fator principal para isso é que seus roteiristas nunca deixaram a história completa já no primeiro filme, apresentando apenas uma nova roupagem nas sequências. Eles introduziram novos conflitos, reciclaram as histórias e desenvolveram as tramas entre os filmes.
        Wes Craven, o gênio por trás de "A Hora do Pesadelo" e "Pânico" conseguiu isso, no último, porque o filme não é somente de terror, ele apresenta elementos de humor e, com sutileza, chega a fazer sátiras aos filmes do gênero e até mesmo a própria trama. Para as pessoas que gostam de "Todo Mundo em Pânico", digo que os filmes dessa franquia não são uma sátira de "Pânico" e outros filmes de terror, são, mais exatamente, cópias escrachadas do próprio "Pânico".
        O mistério dos "Premonição" é desenvolvido em todas as continuações, se não é possível enganar a Morte, saiba que ela nunca trabalha da mesma forma. E isso é ótimo, pois senão todos os filmes posteriores ao primeiro seriam previsíveis e um fracasso completo.
        Nesse mês de outubro teremos a estréia de "Atividade Paranormal 3", vamos ver se o terceiro consegue escapar da maldição das sequências, diferentemente do segundo...
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28/SET/2011
Grandes Duelos do Cinema
        No cinema frequentemente vemos duas forças opostas, movidas por interesses distintos e conflitantes que lutam em busca de seus objetivos. Frequentemente essas forças são encorporadas por personagens, como por exemplo o "mocinho" e o "vilão". Se considerarmos "duelo" como a própria definição desse processo, concluímos que inúmeros filmes possuem suas bases em duelos. Algumas vezes, o duelo é explícito, podendo, inclusive, ser resumido numa única cena. Entretanto, um duelo pode se estender ao longo da trama e estar presente durante todo o filme. Em casos mais raros ainda, o duelo pode ser discutido em mais de um filme.
        Quando falamos em duelos na história cinematográfica, a alusão mais clara que pode ser feita é aos filmes de faroeste ou westerns. Na maior parte deles temos uma cena em que o "mocinho" enfrenta o "vilão" num duelo de vida e morte. Nesses casos o duelo é explícito e materializado em uma única cena, geralmente no clímax do filme. Um exemplo de duelo desse tipo acontece no "Exterminador do Futuro"(1984), na cena final onde Kyle e Sarah Connor representam uma única força movida pela esperança de um futuro, ainda que apocalíptico, contra o Terminator. Veja que aparentemente não é um duelo, uma vez que temos três personagens envolvidas, porém duas delas (Kyle e Sarah) representam a mesma força. Agora, outros exemplos mais diretos desse tipo de duelo podem ser visto em "Gladiador"(2000) na luta entre Maximus e Commodus, em Avatar (2009) entre Jake e Coronel Miles e até mesmo no filme de Chaplin, "O Garoto"(1921), quando o vagabundo tem uma luta trapalhada com um policial.
        Mas ainda temos casos de duelos mais longos e que podem, até mesmo, não serem concretizados numa luta explícita. Cito aqui o caso de "Apocalypse Now"(1979), no qual o duelo é entre a visão de Coronel Kurtz e a de capitão Willard. Na obra de Coppola não há nenhuma luta entre os dois, a cena do assassinato do Coronel não pode ser considerada, pois o mesmo não apresenta nenhum tipo de resistência. O duelo ocorre durante todo o tempo em que o capitão atravessa o rio em direção ao Camboja, todo o terror que ele presencia em sua jornada é a "arma" que Kurtz utiliza para que seu ponto de vista vença. No fim, não há vitória de nenhum lado, vemos que pontos de vista são subjetivos e complexos. E o filme deixa espaço para que o espectador crie sua tese, Kurtz morreu mas chegou a convencer Willard? Ou o capitão permanece fiel aos seus ideais iniciais? E ainda temos a possibilidade de que o capitão tenha criado uma nova percepção da guerra, mesclada pelos dois pontos apresentados no filme.
        Há, também, as situações nas quais mais de um filme compõe um duelo, normalmente esses formam uma saga ou trilogia. Temos os exemplos de "Harry Potter" no duelo do Bem contra o Mal, ou Harry Potter contra Voldemort. Na franquia do bruxo, duelo é vivido durante sete livros e oito filmes, materializado em algumas cenas de luta, culminando com o duelo final, que nada mais é que a representação do conflito que ocorreu durante toda a saga. Temos, ainda, o "Duelo da Força", semelhante ao de "Harry Potter", que é contextualizado em "Star Wars". Novamente, o duelo se extende por mais de um filme mas pode ser representado por cenas pontuais, como, por exemplo, entre Obi-Wan Kenobi e Darth Vader/Anakin Skywalker nos episódios III e IV.
        É claro que não podemos classificar de modo tão analítico as tramas, temos muitos personagens e forças intermediárias que aparecem nos filmes e que participam do processo. E temos também duelos combatidos por uma única personagem, são duelos interiores como o que acontece em "Cisne Negro" (2010). De qualquer forma, os duelos foram e continuarão sendo grande forma de inspiração para os roteiros, garantindo algumas das cenas mais marcantes e significativas da história do cinema.






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