quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Confiar

David Schwimmer é conhecido mundialmente pelo seu eterno papel na sitcom "Friends" como Ross, porém é bem provável que depois de "Confiar" você lembre dele também como o diretor que realizou um dos melhores filmes do ano de 2011. Em "Confiar" conhecemos a história de Annie, uma garota de 13/14 anos que é seduzida e abusada sexualmente por um homem de cerca de 35 anos que ela conheceu na internet. Os roteiristas (Andy Bellin e Robert Festinger), que podiam ter seguido a linha investigativa, optaram por lidar quase que exclusivamente com o estresse provocado pelo acontecimento na família de Annie, em particular em Annie, vivida por Liana Liberato, a qual pode esperar uma indicação ao Oscar ano que vem, e em Will (Clive Owen). Schwimmer soube não interferir na trama, sua direção, ao que parece, foi mais de atores do que de câmera. As filmagens ocorrem de uma forma orgânica, uma vez que o drama já é muito carregado e a interpretação do elenco dá conta do recado. "Confiar" é um filme que nos faz, durante a exibição, questionar nossos conceitos e parece que está a todo tempo brincando com a ideia de o que é certo e errado. No início tende a mostrar o caso por uma luz diferente, como se aquilo que todos ao redor de Annie viam como um estupro, pra ela não era. Em parte, pelo fato dela ter sido, aos poucos, seduzida nas conversas online que teve como "Charlie", o pedófilo. Mas em nossos relacionamentos não somos constantemente seduzidos, e por que a idade deveria ser um problema? Fato polêmico que é tratado no filme pelo colega de Will, claramente percebemos seu alívio na cena em que Will explicita como foi o ocorrido e percebemos que sua percepção de estupro é diferente da de Will e isso faz com que o próprio Will comece a se questionar. Mas... Após Annie perceber que ela não foi a primeira vítima de "Charlie", ela passa por uma depressão profunda e confessa que se vê como uma vítima de abuso sexual. Então, voltamos ao que é tido como consenso, ou seja, aquilo realmente foi um estupro. Percebemos com isso que a intenção de "Confiar" não é em classificar a tragédia sofrida pela protagonista e sim demonstrar como foi o processo de amadurecimento pelo qual a mesma teve de passar com tudo isso, como sua família teve de ajudá-la a superar o problema. O principal não é se aquilo foi um estupro ou não, mas de que aquilo deixou marcas graves e profundas na vítima (Annie). A película não deixa de ser um alerta a todos, sobre os perigos que a internet e o mundo globalizado podem transmitir, mas em momento algum faz apologia contra o uso da mesma, deixando claro que a situação toda ocorre por uma convergência de fatores: crise de adolescência, pais desatentos, insegurança e pressão escolar, até mesmo bullying. O final não chega a ser feliz, mas também não é trágico, apenas nos mostra como o perigo está por toda parte. Uma das melhores cenas do filme e das mais significativas para a construção da história se encontra no começo dos créditos finais. Não deixem de assistir "Confiar", é uma grande aposta para a temporada de prêmios do ano que vem, principalmente para Melhor Filme, Melhor Ator e Melhor Atriz Coadjuvante.

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